Opinião: Às vezes o silêncio fala mais do que mil palavras (ou menos)

Opinião: Às vezes o silêncio fala mais do que mil palavras (ou menos)
Rômulo Amaro, integrande do CA do Guarani desde 02/04/2023. Foto: Raphael Silvestre/Guarani FC.

Ao falarmos da necessidade de planejamento, também é necessário abordarmos os termos “assertividade” e “convicção” como complementos. No final da tarde de ontem (16/10), a Torcida Bugrina teve, finalmente, o fim do silêncio sepulcral que tomou conta do Brinco de Ouro por longos 5 dias. Aviso, este texto ficou mais longo do que planejado, eu também não sou bom em planejamento.

Em seu discurso, que pareceu ser lido, portanto não foi nada espontâneo, o presidente do CA, Rômulo Amaro afirmou ter assumido o clube em meio a uma crise financeira, administrativa e política e, entre outras coisas, citou a Recuperação Judicial pela qual passa o clube, como um dos entraves para o sucesso desportivo: “tínhamos acabado de aprovar uma RJ, além de acordos que foram feitos e não vinham sendo cumpridos e com necessidade de contrações para o futebol”.

A queixa seria correta, se não fosse por um motivo: Rômulo Amaro, assim como os atuais outros cinco integrantes do Conselho de Administração Bugrino, não tomaram posse em outubro de 2024, mas sim em abril de 2023, junto ao então presidente do CA, André Marconatto.

Se há, ou havia, uma crise financeira, administrativa ou política, esta crise não foi herdada, mas sim criada na gestão do mesmo grupo político ao qual pertence, e com decisões assinadas e avalizadas pelo próprio Rômulo Amaro, posto que ele era integrante do órgão de gestão do Guarani FC praticamente há um ano e meio, antes de assumir a presidência, após licença médica do então presidente.

Apesar de ter sido citada em apenas uma passagem da fala do presidente do CA, a passagem de Rodrigo Pastana é um dos pontos que pede atenção especial. Amaro declarou que quando assumiu a presidência, o então executivo de futebol já estava no cargo e estava tomando as decisões. Mais além ele disse ter identificado a necessidade de mudança e que ela foi imediata.

Pois bem, Pastana assume o posto em 06 de julho de 2024, portanto, apenas pouco de 3 meses antes de ele se tornar presidente do Conselho de Administração, e permanece no cargo por 10 meses, deixando o clube no final do mês de abril de 2025. Destes 10 meses, 7 foram sob a presidência de Rômulo Amaro, e neste período contratou nada menos que 35 jogadores. Foram 9 contratações na 2ª janela da Série B que levou o Guarani ao rebaixamento na última colocação, 18 na pré temporada ou durante a abertura da 1ª janela de transferências de 2025 (Campeonato Paulista) e 9 atletas na janela de exceção, entre o final do Paulista e o início da Série C.

Durante todo este período de 7 meses, foram inúmeras as declarações de Rômulo Amaro em entrevistas a emissoras de rádio e TV locais, onde o presidente rendeu e rasgou elogios, apoio e confiança no trabalho do então executivo de futebol, e, em uma delas, declarou que Rodrigo Pastana era o profissional escolhido para tocar o futebol do clube, contava com a confiança, mas seria cobrado pelo CA,  que não faria nada sem aprovação dele, presidente, e do restante do Conselho de Administração.

E declarou até que a montagem do elenco praticamente Sub-23 que defendeu o Guarani entre o Campeonato Paulista e grande parte da última Série C, seria na verdade um projeto do Conselho de Administração, abraçado por Rodrigo Pastana. Portanto, segundo suas próprias palavras, Pastana não estava tomando decisões, estava cumprindo determinações dele e de seus pares de Conselho de Administração.

Aqui nós temos claro que o tempo é diferente para Torcedores e gestores. Um “imediatamente” que demora 7 meses para acontecer, e permite que três momentos cruciais do futebol Bugrino sejam comprometidos: a reta final da Série B de 2024, a disputa do Campeonato Paulista e o planejamento e início da disputa da última Série C. A isso acrescente a decisão de criar mais um fracasso pra chamar de seu: a disputa da Copa Paulista.

Em meio a tudo isso, houve um acerto, a chegada de Farnei Coelho, profissional sério, correto e comprometido com o clube, que, se não acertou em tudo, tem um índice de compreensão da realidade da competição que o Guarani disputava, e pode ser chamado de “o homem que evitou o rebaixamento do Guarani para a Série D”.

Só não posso cravar como ótimo o trabalho do atual executivo de futebol porque futebol é resultadista, e Farnei, apesar de todos os méritos da reformulação do elenco, e de ter conseguido “afastar” a mentalidade de contratações de jovens jogadores, não conseguiu o desejado e objetivado acesso, mas tenho que reconhecer que o acesso só pôde ser sonhado graças ao trabalho que ele desempenhou, e que levou o Bugre à segunda fase da competição.

Talvez, e só posso dizer talvez, se o imediatismo declarado do presidente tivesse acontecido de fato imediatamente, e não apenas após longos, doloridos e fracassados 7 meses, o Guarani hoje estivesse em um lugar melhor.

E para concluir, Rômulo Amaro defendeu que o atual trabalho, inclusive do CA, deve continuar, para que o Guarani volte a ser grande. O problema é que, dentro de campo, o atual trabalho conduziu o Guarani ao rebaixamento na última colocação da Série B de 24, fracassou na obtenção da classificação no Paulista de 25 e, culminou com a maior vergonha vivida na história futebolística do clube: ser eliminado pelo rival, numa partida em que, vencendo, disputaria uma final de campeonato e conquistaria o objetivado acesso.

O problema é que o acesso não foi perdido apenas no Dérbi 212, ele foi desperdiçado ao não conseguir segurar minimamente um empate em Brusque, ou ao não conseguir segurar a vitória contra o Náutico em pleno Brinco de Ouro da Princesa.

Neste caso, o grupo espelha a liderança. O “senso de imediatismo” que levou Rômulo Amaro a desligar Rodrigo Pastana apenas 7 meses após sua posse como presidente, foi o mesmo “senso de imediatismo” dos jogadores, que adiaram o acesso em duas partidas seguidas. Ao deixarem para a última partida, permitiram a vergonha que todos estamos passando.

E antes de acabar tenho que registrar: num pronunciamento de 4:09 minutos de duração, o presidente leu, por cerca de 20 segundos uma espécie de pedido de desculpas ao Torcedor do Guarani. Gastou mais tempo dizendo ser Torcedor do Guarani e sofrer com o momento atual do clube, do que para pedir desculpas à arquibancada.

Esta é a gestão que separa CPF de CNPJ… pobre Guarani.

Marcos Ortiz