A pior campanha da história do Guarani Futebol Clube

Sem dinheiro e sem patrocinadores, afinal os contratos anteriores haviam se encerrado junto com o Brasileiro da Série B, e depois de mais um rebaixamento era quase impossível convencê-los a permanecerem, o Clube não tinha dinheiro para contratar jogadores, pagar salários, e mais, sequer para pagar as taxas de inscrição na FPF e CBF (que não são muito baratas). Qual a saída? Simples, decidiram recorrer a empresários. Um deles foi trazido pelo próprio Amoroso e apresentado à Diretoria, era Gilmar Veloz, que representava grandes jogadores (Alexandre Pato é um deles), o outro empresário foi Nene Zini, e aqui vai um apêndice no meio disso tudo, foi graças a ele que o time montou elenco, pagou inscrições e pagou poucos salários, infelizmente através de empréstimos, mas pagou.

O treinador escolhido era Zé Teodoro que vinha embasado por boas campanhas, quase todas realizadas no futebol do Norte e Nordeste do país, mas tinha um curriculum promissor, e assim o Guarani se preparava para estrear no Paulistão, mas este ambiente acabou sofrendo uma alteração de última hora. Na semana da estreia a diretoria anunciou a contratação de um Supervisor de Futebol, um profissional experiente, com trabalhos de sucesso em seu portfólio e que construiu sua carreira toda atuando em dois clubes do Rio de Janeiro: Vasco da Gama e Flamengo. Era Isaias Tinoco.

Tinoco era um “lorde”, um homem de fino trato e de uma educação que poucas vezes vi, estava explicado como conseguiu construir sólida carreira tendo como presidentes algumas raposas como Marcio Braga, Kleber Leite e principalmente, Eurico Miranda. Sabia mais ouvir do que falar, mas estava habituado ao trabalho em condições diferentes daquelas que encontraria no Brinco, como todos que vivem o futebol estavam.

A estreia aconteceu em Lins, o Bugre jogou contra o Linense e perdeu de virada por 2×1. Não, não jogou mal, mas não conseguiu segurar a vitória, nem o empate. A equipe que estreou na competição teve: Emerson; Tiago Pagnussat, Montoya e Leandro Souza; Oziel, Ademir Sopa (Wellington Monteiro), Dêner, Rafael Costa (Gabriel Esteves), Fumagalli (Diogo) e Bruno Recife; Michel. O Bugre jogava no 3-6-1.

Zé Teodoro teve vida curta, na segunda rodada um empate por 0x0 no Brinco e na rodada seguinte era chegada a hora do derbi. A Torcida estava naturalmente apreensiva, faltava confiança naquele Guarani recém montado e que nas duas partidas anteriores não havia conseguido dar esperanças, mas era derbi e era no Brinco, então vamos para o jogo.

Não, nem o peso da camisa Bugrina foi suficiente para superar a situação, o Bugre saiu perdendo, até buscou o empate no final da primeira etapa, mas no segundo tempo tomou mais dois gols e perdeu o jogo por 3×1, mas ainda viriam mais coisas, após a partida Zé Teodoro comparece à entrevista coletiva ao lado de Álvaro Negrão e anuncia que está deixando o comando do Guarani, os motivos até foram apresentados, mas de fato o maior deles eram as diferenças entre ele e o Supervisor Isaias Tinoco, e assim o Bugre iniciou, já com muita tormenta, o Paulistão.

Sem perder muito tempo a diretoria foi em busca de um novo treinador, e ai surgiu um grande erro, o nome escolhido foi Branco, ex lateral-esquerdo, Campeão do Mundo com o Brasil em 1994, mas que como técnico tinha pouca experiência, trabalhou na coordenação do Fluminense, trabalhou na coordenação das categorias de base da CBF, mas como treinador, apenas uma rápida e discreta passagem pelo Figueirense e por último um rápido trabalho no inexpressivo Sobradinho-DF onde ficou por apenas dois jogos. Caramba e agora, o que fazer? Ah, sei lá, acreditar que daria certo?

Não, não deu. Comandado por Branco o Guarani se perdeu. Se o time comandado por Zé Teodoro deixava esperanças de se acertar durante a competição, com o novo treinador nem isso acontecia. Aliás, Branco sequer comandava a maioria dos treinamentos, eram os auxiliares que ele tinha trazido que o faziam, cabendo sua intervenção em raros momentos, quase sempre com o treinador se lembrando dos tempos de jogador e tentando passar aos atletas um pouco de suas habilidades nos fortes chutes a gol.

De cara foram três derrotas, uma por 3×1 para o Bragantino, outra pelo mesmo placar para o Botafogo, a recuperação viria na rodada seguinte quando o Bugre receberia o São Caetano no Brinco e venceria pelo placar de 3×1. Será que deu liga? O time daquela partida teve Juliano; Tiago Pagnussat, Thiago Matias (Everton) e Max; Oziel, Ademir Sopa, Dêner, Thiago Gentil (Wesley) e Diogo; Siloé (Gabriel Esteves) e Ronaldo Mendes.

Parecia que o time havia se equilibrado, mas na partida seguinte veio uma derrota para o São Paulo por 2×1 no Brinco e o Guarani encerrava a sétima rodada na vice lanterna do Paulistão. Desespero era pouco. Na rodada seguinte o time até se recuperou e em Piracicaba o Bugre venceu bem o XV por 3×2, deixando a zona de rebaixamento e subindo para a 16ª posição, posição que seria um pouco melhorada ao final da próxima rodada com o empate conquistado jogando em Itu com o Ituano por 2×2 e a 15ª colocação na tabela.

Não, vencer não era a vocação daquele time. Mal montado, mal escalado e mal comandado a pressão aumentaria, e o pior, a diretoria havia se comprometido tanto ao apelar a empresários no auxílio da montagem do time que pouco poderia fazer, não era o Guarani em campo, era um time usando a camisa do Guarani.

O Paulista seguia e a Torcida nem de longe imaginava que o Bugre comandado por Branco havia conquistado em Piracicaba sua última vitória na competição, apenas na Copa do Brasil a equipe voltaria a vencer, mas não teria o que comemorar, afinal, depois de perder para o Confiança-SE por 1×0, a vitória por 1×0 em Limeira no jogo de volta, gol marcado por Fernando Gaúcho aos 42 minutos do segundo tempo (o Brinco estava interditado e já, já, vamos falar sobre isso) veio precedida de uma nova derrota nas penalidades e o time sergipano ficou com a vaga na fase seguinte.

Branco já havia saído, quando faltavam três jogos para o fim da competição e uma inexpressiva chance de evitar o rebaixamento ele convocou uma entrevista coletiva e anunciou que – para dar tempo de reação ao time, estava deixando o comando e torcendo para que o Guarani conseguisse evitar o rebaixamento -. Assumiu o comando o auxiliar técnico Paulo Pereira que comandou o time nos três jogos finais, estreou perdendo pra o Penapolense fora de casa por 3×0, veio a certeza, o rebaixamento era inevitável, e foi, o próprio Paulo Pereira deixou o Clube após a próxima partida.

Rebaixado com a pior campanha de sua história, somando apenas 10 pontos, com uma campanha de 12 derrotas, 02 vitórias e 04 empates até perder par ao Palmeiras por 4×1 fora de casa na 18ª rodada, pela primeira vez na sua história o Bugre caia como lanterna de uma competição.

O Guarani passaria a conviver com um outro problema a partir da derrota em casa para o Atlético Sorocaba, ainda na 15ª rodada do Paulista. Depois de várias notificações emitidas desde 2008 e vários Termos de Compromisso e Termos de Ajustamento assinados junto ao Corpo de Bombeiros, a paciência acabou, por falta de numeração nas arquibancadas pintadas em 2010, falta de corrimões nas escadas de circulação, precariedade na sinalização das placas de orientação e outros problemas menores, o Brinco de Ouro estava interditado, o Guarani não poderia mais mandar jogos em casa até que o problema fosse resolvido, não seria mais aceito nenhum tipo de documento, apenas a execução das obras.

Por coincidência eu estava lá no Queijo quando a interdição chegou, lembro muito bem da conversa que tive com o Tenente Villas Boas naquele final de tarde: Se algum setor tivesse as adequações necessárias ele poderia ser liberado, mas apenas o setor que apresentasse todas as adequações.

Chamei pelas redes sociais alguns amigos que não disseram não. Não vou citar nomes porque corro o risco de me esquecer de alguém, e certamente vou acabar esquecendo, seria injusto, mas decidimos, vamos numerar as arquibancadas embaixo do tobogã e providenciar corrimões e placas para aquele setor. O Clube tinha barras de ferro para os corrimões, compramos tinta, pincel, rolos, fitas, enfim, com o que podíamos, fomos lá, numerar. E deu certo, em uma semana numeramos o setor, os bombeiros vistoriaram, mas não dava mais tempo de manar o jogo contra o Confiança pela Copa do Brasil no Brinco, ele já havia sido transferido para Limeira, mas contra o Barbarense, na última rodada, o Brinco teria casa para jogar.

Jogou! E perdeu por 3×1 para o Barbarense, não valia nada, as duas equipes estavam rebaixadas, mas se vencesse o Bugre não seria lanterna, seria 0 18º colocado ultrapassando o próprio Barbarense e o São Caetano. Todos, ao lado do Mirassol, jogariam a Série A2 de 2014.Se despedindo da Série A1 do Paulista o Guarani teve: Renan; Marcinho, Tiago Pagnussat, Paulão e Diogo; Wellyson, Wellington Monteiro, Wilson e Everton (Felipe Merlo); Erik (Cadu) e Fernando Gaúcho (Víctor Bandeira). Técnico: Carlinhos (interino).

Foram 13 derrotas, 02 vitórias e 07 empates, o Bugre marcou

Marcos Ortiz
Planeta Guarani